Você já recebeu uma mensagem de alguém fingindo ser um amigo ou parente pedindo dinheiro pelo WhatsApp? Ou uma ligação do banco solicitando a confirmação de dados? Se a resposta for sim, saiba que não está sozinho. Golpes como esses estão se tornando cada vez mais comuns – e eles começam em um lugar inesperado: painel de dados.

Essas plataformas clandestinas reúnem informações sigilosas de milhões de brasileiros, como CPF, endereço, telefone, renda e até vínculos familiares. Com poucos cliques, criminosos acessam esses dados e orquestram fraudes altamente convincentes.

O UOL, em uma reportagem recente, trouxe à tona o impacto dessas práticas e explicou como esses dados de painel são acessados de maneira ilegal. Vamos explorar como esses golpes acontecem e como afetam a segurança de todos. Acompanhe!

A origem do painel de dados no Brasil

Nos anos 2010, o mercado de dados vazados começou a crescer. DVDs e pen drives com informações pessoais eram vendidos por camelôs, enquanto a deep web já era usada para comercializar dados de forma secreta. Empresas de telemarketing, por exemplo, compravam essas informações para montar mailing lists.

A virada aconteceu com plataformas como o site Tudo Sobre Todos, que, em 2015, ganhou notoriedade ao reunir informações pessoais de brasileiros em uma única página na internet. A partir daí, a coleta e comercialização de dados se tornaram mais organizadas, alimentando painéis acessíveis a criminosos.

Outro marco foi o megavazamento de 2021, que expôs mais de 220 milhões de registros, expandindo ainda mais essa prática criminosa. Dados como CPFs, salários, informações de veículos e scores de crédito passaram a ser usados para fraudes mais sofisticadas.

Além dos grandes vazamentos, o painel de dados também se alimenta de outras fontes, como:

  • Vazamentos menores de empresas privadas.
  • Compra de dados de aplicativos e sites.
  • Técnicas de phishing e malware.
  • Informações coletadas em cadastros duvidosos.

Como os golpes são criados a partir do painel de dados?

Antes, os golpes digitais eram genéricos e baseados em tentativas de fraudes em massa. Hoje, com acesso a informações detalhadas sobre as vítimas, criminosos realizam ataques cirúrgicos e altamente eficazes. O impacto é profundo: os golpes se tornam mais convincentes e difíceis de detectar.

Aqui estão alguns exemplos comuns de fraudes originadas nesses painéis:

Golpe

Como Funciona?

Dica de Proteção

Golpe do WhatsApp

Usando dados do painel, criminosos se passam

por amigos ou parentes pedindo dinheiro.

Sempre confirme com uma ligação

antes de transferir qualquer valor.

Falso Suporte Bancário

O fraudador se passa por um banco

solicitando dados pessoais.

Bancos nunca pedem dados por telefone.

Desligue e ligue diretamente para a instituição.

Falsa Central de Atendimento

Criminosos pedem códigos ou informações

pessoais para “resolver problemas”.

Nunca forneça códigos ou informações

por telefone ou e-mail.

Roubo de Identidade

Dados vazados são usados para abrir contas

ou contratar serviços em nome da vítima.

Monitore seu CPF e score de crédito regularmente

para detectar movimentações suspeitas.

Além desses golpes, criminosos já utilizam tecnologias como clonagem de voz e deepfakes para enganar vítimas.

Um exemplo recente que ganhou grande atenção foi o caso de uma mulher que caiu em um golpe, onde a voz de Elon Musk foi clonada por criminosos utilizando tecnologia de inteligência artificial. Ela acreditava estar conversando com o empresário, mas na realidade, estava sendo enganada por um golpista. A vítima, uma mulher de 71 anos, perdeu mais de R$150 mil, fazendo empréstimos e até cogitando vender sua casa para enviar dinheiro ao golpista.

Este caso mostra como os criminosos podem usar dados públicos e privados para criar fraudes altamente sofisticadas.

Leia também:Deepfake é uma ameaça à segurança digital: entenda os riscos!

Facções criminosas e o uso do painel de dados

No Brasil, facções criminosas também se beneficiam dessas plataformas para cometer uma variedade de crimes, incluindo extorsão, lavagem de dinheiro e até crimes violentos.

Com acesso a dados sensíveis, criminosos identificam vítimas vulneráveis – como pessoas endividadas – para aplicar golpes de extorsão. Além disso, utilizam informações para movimentações financeiras ilegais e lavagem de dinheiro.

Outro risco é o uso dessas informações para ameaças e intimidações. Há casos em que criminosos se passam por policiais ou advogados para pressionar as vítimas a fazer pagamentos sob coação.

Esse cenário ilustra como o vazamento de dados pode impactar não apenas a segurança financeira das pessoas, mas também sua integridade física e emocional.

Por que os crimes digitais cresceram tanto?

A digitalização acelerada e a popularização de novas formas de pagamento, como o Pix, criaram um ambiente propício para fraudes. Alguns fatores contribuem para esse aumento:

  • Mais pessoas no sistema bancário digital: Isso amplia o número de alvos em potencial para golpes.
  • Uso massivo do Pix: Transferências instantâneas e irreversíveis facilitam fraudes financeiras.
  • Vazamentos recorrentes: Dados expostos tornam os golpes cada vez mais sofisticados.
  • Baixa fiscalização: A falta de punições eficazes incentiva o crime e a comercialização ilegal de informações.
  • Atuação do crime organizado: Facções utilizam esses dados para fraudes, extorsões e outras práticas ilícitas.

Ressaltando ainda que a comercialização de dados pessoais é um problema global, e o Brasil não é o único país afetado. No entanto, a falta de fiscalização rigorosa agrava a situação.

O desafio da LGPD na proteção de dados

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) foi um avanço na regulamentação da privacidade no Brasil, mas sua aplicação ainda enfrenta desafios. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) não possui recursos suficientes para uma fiscalização eficaz.

O que pode ser feito?

  • Punições severas para empresas que permitirem vazamentos.
  • Monitoramento preventivo para detectar vazamentos antes que sejam explorados por criminosos.
  • Campanhas de conscientização para educar a população sobre a importância da proteção de dados pessoais.

Como se proteger dos golpes?

Embora medidas governamentais sejam essenciais, cada indivíduo pode adotar práticas para proteger seus dados e dificultar o trabalho dos criminosos.

Dica

Ação

Evite compartilhar dados pessoais desnecessários

Não forneça CPF em lojas online ou cadastros duvidosos.

Verifique a segurança de sites

Confirme que o site tenha "https" e o ícone de cadeado

antes de inserir informações pessoais.

Use senhas fortes e exclusivas

Crie senhas diferentes para cada serviço para evitar riscos de vazamentos.

Ative a autenticação de dois fatores (2FA)

Adicione uma camada extra de segurança nas suas contas com 2FA,

sempre que possível.

Utilize ferramentas de monitoramento de CPF

Acompanhe regularmente seu CPF e score de crédito para

detectar movimentações suspeitas.

Desconfie de mensagens e ligações inesperadas

Não forneça dados pessoais ou faça transferências sem confirmar

a veracidade da solicitação.

Desconfie de ofertas muito vantajosas

Evite clicar em promoções e ofertas que parecem

boas demais para ser verdade.

Seus dados pessoais são mais valiosos do que você imagina – e já podem estar circulando por aí. A melhor defesa? Proteger suas informações ao máximo.

Esse tipo de painel de consulta de dados se tornou uma peça-chave no cenário dos crimes digitais no Brasil. O combate a essa ameaça exige ações mais rigorosas por parte das autoridades, maior responsabilidade das empresas e conscientização da população.

A regra de ouro? Trate seus dados como se fossem dinheiro. Para os criminosos, eles valem muito.

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