O Brasil entrou em uma nova fase na forma de lidar com ameaças digitais. No início de agosto, o governo federal publicou o Decreto nº 12.573, que institui a Estratégia Nacional de Cibersegurança (E-Ciber). A medida não é apenas burocrática: representa a consolidação da segurança digital como política de Estado e tema estratégico para empresas e cidadãos.

Com 314 bilhões de ataques cibernéticos no 1º semestre de 2025, segundo o FortiGuard Labs, a E-Ciber busca organizar ações que estavam fragmentadas e estabelecer prioridades estratégicas em nível nacional.

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O que é a E-Ciber?

A Estratégia Nacional de Cibersegurança do Brasil funciona como um plano de longo prazo para aumentar a resiliência digital do país. O decreto se estrutura em quatro eixos principais:

  • Conscientização da sociedade: campanhas educativas voltadas para ampliar o entendimento sobre riscos digitais.
  • Segurança de infraestruturas críticas: foco em setores como energia, saúde e telecomunicações, cuja interrupção pode afetar milhões de pessoas.
  • Cooperação entre setores público e privado: estímulo ao compartilhamento de informações e práticas de defesa.
  • Governança para soberania digital: diretrizes para reduzir a dependência de soluções externas e reforçar a autonomia tecnológica.

A coordenação ficará a cargo do Comitê Nacional de Cibersegurança (CNCiber), criado em 2023. O grupo reúne representantes de ministérios, empresas e sociedade civil e terá a responsabilidade de detalhar cerca de 40 ações estratégicas, com prazos e métricas de acompanhamento.

Por que a E-Ciber é necessária agora?

O volume crescente de ataques contra sistemas públicos e privados no Brasil tem colocado em risco desde serviços bancários até hospitais. Em 2024, o país concentrou quase 40% das ameaças cibernéticas detectadas na América Latina.

Esse cenário deixou claro que a segurança digital não pode ser tratada de forma isolada ou restrita a departamentos de TI. A E-Ciber busca criar um padrão mínimo de proteção nacional, que envolva desde treinamentos básicos para cidadãos até protocolos de resposta em escala governamental.

Trata-se de um avanço similar ao observado no setor financeiro, quando recomendações estratégicas se consolidaram como obrigações formais.

Um esforço conjunto para políticas eficazes

A E-Ciber deixa claro que a segurança digital não se constrói isoladamente. Para que a estratégia nacional funcione, governo e empresas precisam atuar de forma coordenada, transformando diretrizes em proteção concreta. Entre os caminhos destacados estão conscientização da sociedade, resiliência de serviços essenciais, cooperação público-privada e fortalecimento da soberania nacional.

Isso significa investir em políticas internas que dialoguem com as orientações do Estado, incluindo:

  • Programas de capacitação para colaboradores, voltados para identificação e prevenção de riscos digitais;
  • Simulações de resposta a incidentes, alinhadas a protocolos nacionais;
  • Integração com centros de monitoramento oficiais, permitindo troca de informações em tempo real;
  • Adoção de padrões reconhecidos de governança, garantindo maturidade e conformidade nas operações.

Quanto mais alinhadas estiverem as práticas corporativas, maior será a capacidade do país de prevenir, reagir e aprender com incidentes, transformando a cibersegurança em um projeto de nação, que envolve Estado, empresas e sociedade na proteção do ambiente digital brasileiro.

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O papel dos especialistas em segurança digital

Nesse contexto, os profissionais de segurança da informação assumem protagonismo. São eles que precisam interpretar o decreto, traduzir diretrizes e transformá-las em práticas dentro das organizações.

Para Caio Telles, CEO da BugHunt, atualização constante é o ponto central:

“A regulamentação reforça a importância de estar sempre atualizado. Não é só seguir regras, mas entender o que está por trás delas, antecipar riscos e aplicar na prática dentro das empresas. Estar atento a essas mudanças é o que garante resiliência e fortalece a segurança digital.”

Normas e padrões mudam em ritmo acelerado. Acompanhar essa evolução é parte fundamental da defesa. Quem domina esse diálogo entre tecnologia, regulação e negócios terá papel decisivo na consolidação da soberania digital brasileira.


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Desafios da E-Ciber para o Brasil

Implementar a Estratégia Nacional de Cibersegurança não será simples. O país enfrenta desigualdades no acesso digital, escassez de mão de obra especializada e diferentes níveis de maturidade em segurança entre setores.

Entre os principais desafios estão:

  • formar profissionais em número suficiente para atender à demanda;
  • engajar empresas em segmentos estratégicos, como saúde e energia;
  • atualizar periodicamente as diretrizes, acompanhando a evolução das ameaças.

O CNCiber terá papel determinante em acompanhar e revisar os planos de ação, garantindo que a estratégia não fique desatualizada diante de novas técnicas de ataque.

Contudo, ao instituir a E-Ciber, o governo brasileiro eleva a cibersegurança ao patamar de política estratégica nacional. Trata-se de um esforço coletivo em que Estado, empresas e sociedade compartilham responsabilidades.

Para as organizações, a lição é clara: segurança digital não é apenas uma exigência regulatória, mas um ativo estratégico. Quem se antecipar e alinhar suas práticas à E-Ciber terá vantagem competitiva e ajudará a construir um Brasil mais preparado para os riscos do futuro.

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