Open banking: como funciona e quais são suas vantagens?

O Open Banking, ou sistema financeiro aberto, tem mudado a forma como lidamos com o nosso dinheiro. A ideia é simples: dar ao cliente o controle sobre seus dados bancários e permitir que ele os compartilhe com outras instituições, sempre que quiser, para receber propostas mais vantajosas.

Desde 2021, o Brasil começou a implementar esse modelo, que já é realidade em vários países. E embora ele esteja se expandindo, muita gente ainda não faz ideia do que se trata.

Uma pesquisa do Datafolha, feita em julho de 2024, revelou que 55% dos brasileiros nunca ouviram falar de Open Finance, que nada mais é do que uma evolução do Open Banking. Outros 19% disseram conhecer pouco ou quase nada sobre o assunto. Ou seja: quase três em cada quatro pessoas ainda estão no escuro quando o tema é esse novo jeito de lidar com informações financeiras.

Se esse também é o seu caso, não se preocupe. Neste artigo, você vai entender o que é Open Banking, como ele funciona na prática, por que ele pode facilitar sua vida financeira e o que muda para quem usa cartões de crédito, busca melhores opções no mercado ou quer mais liberdade para escolher. Acompanhe!

O que é Open Banking?

Open Banking é uma iniciativa que permite o compartilhamento padronizado e seguro de dados financeiros entre instituições autorizadas, com o consentimento dos titulares dessas informações.

Regulamentado pelo Banco Central, o sistema permite que o cliente tenha o controle sobre seus próprios dados, incluindo histórico de transações, uso de cartões de crédito, contas bancárias, empréstimos, entre outros, e decida com quem compartilhá-los. Essa estrutura torna possível receber ofertas mais personalizadas, acessar novos produtos e serviços e até comparar condições entre diferentes instituições de forma prática.

Esse modelo foi o ponto de partida para uma estrutura ainda mais ampla: o Open Finance, o qual representa a evolução do Open Banking e inclui também setores como seguros, previdência e câmbio. Em ambos os casos, o objetivo é o mesmo: devolver o controle das informações financeiras para o cliente, com transparência, segurança e agilidade.

Leia também: Interoperabilidade: o que está em jogo quando sistemas não “conversam”

Qual é a diferença entre Open Banking e Open Finance?

Na prática, os dois termos têm sido usados como sinônimos, mas conforme mencionado, há uma diferença de escopo:

  • Open Banking (2021): se refere especificamente ao compartilhamento de dados bancários.
  • Open Finance (2022): vai além, incluindo também produtos como investimentos, seguros, operações de câmbio e previdência.

Ambos seguem os mesmos princípios de segurança, transparência e controle por parte do cliente. E ambos são regulados pelo Banco Central.

Etapas de implementação do Open Banking no Brasil

O Open Banking no Brasil foi pensado para ser implantado de forma gradual, garantindo segurança, estabilidade e adaptação das instituições e dos usuários. A estrutura foi dividida em quatro fases principais, lançadas entre 2021 e 2022:

Fase 1: dados públicos

Instituições participantes começaram a divulgar informações padronizadas sobre canais de atendimento, produtos e serviços, como tipos de contas, tarifas e cartões. A transparência permitiu comparações mais fáceis entre bancos.

Fase 2: dados do cliente com consentimento

Com autorização do usuário, tornou-se possível compartilhar dados como nome, CPF, saldo, limites e transações. Isso possibilitou ofertas mais personalizadas e facilitou a análise de crédito.

Fase 3: iniciação de pagamentos

Usuários passaram a autorizar pagamentos diretamente em plataformas como fintechs, sem precisar acessar o app do banco. Essa etapa trouxe mais agilidade e integração às transações financeiras.

Fase 4: ampliação para outros serviços (Open Finance)

O compartilhamento se estendeu a produtos como investimentos, seguros, previdência e câmbio. O cliente passou a ter uma visão unificada da sua vida financeira em diferentes instituições.

Como funciona o Open Banking?

As funções do Open Banking se dividem em duas categorias: o compartilhamento de dados e o iniciador de pagamentos. Veja o passo a passo para usar cada uma dessas funções a seguir:

Passo a passo do compartilhamento de informações:

  1. Consentimento: no canal da instituição que o usuário deseja compartilhar suas informações, ele escolhe a instituição de origem das informações, quais informações e o prazo de consentimento.
  2. Redirecionamento (origem): o usuário é direcionado para a interface da instituição de origem dos dados para concluir o compartilhamento.
  3. Autenticação: depois do redirecionamento, é necessário acessar sua conta como de costume.
  4. Confirmação: nesta etapa, o usuário autoriza o compartilhamento.
  5. Redirecionamento (destino): o usuário é direcionado para o canal da instituição do destino dos dados.
  6. Efetivação: a transação das informações é concluída.

Passo a passo do iniciador de pagamentos:

  1. Acionar a instituição iniciadora de pagamentos: a instituição escolhida para fazer o pagamento solicita as informações da transação e pede a autorização.
  2. Redirecionamento (origem): o usuário é direcionado para a instituição onde detém a conta.
  3. Autenticação: depois do redirecionamento, é necessário acessar sua conta como de costume.
  4. Confirmação: nesta etapa, o usuário autoriza o pagamento.
  5. Retorno para o iniciador: o usuário é redirecionado para o iniciador de pagamentos.
  6. Efetivar solicitação: a iniciadora de pagamentos exibe a confirmação da solicitação de pagamentos.

A importância das APIs

As APIs (Application Programming Interface) são o motor do Open Banking. Elas funcionam como pontes seguras entre sistemas bancários e outras instituições financeiras, permitindo o tráfego de dados de forma padronizada e segura.

Sem essas interfaces, seria impossível garantir uma comunicação ágil, auditável e protegida. Graças às APIs, as fintechs podem oferecer serviços personalizados sem que você precise, por exemplo, imprimir extratos ou preencher longos formulários.

Essa tecnologia não apenas aumenta a eficiência, mas reduz custos operacionais, o que, muitas vezes, é repassado ao cliente na forma de tarifas menores ou condições mais vantajosas.

Avanços recentes

Em maio de 2025, o Banco Central publicou a Instrução Normativa nº 615, que aprimora as especificações técnicas e exige que as APIs sejam robustas, seguras, versionadas e alinhadas com padrões internacionais como RESTful e ISO 20022. Essas exigências garantem interoperabilidade entre instituições, facilidade na adoção de novas funcionalidades e maior segurança para os titulares dos dados.

Quais instituições participam do Open Finance?

São diversas instituições financeiras e fintechs que fazem parte do ecossistema no Brasil. Entre elas:

  • Bancos tradicionais: Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander, Caixa Econômica Federal, Safra.
  • Fintechs: Nubank, PicPay, Inter, Next, Neon.
  • Instituições de pagamento e adquirentes: PagSeguro, Cielo, Rede, Stone.
  • Plataformas de investimento: XP, Rico, Clear.

A lista completa está disponível no site oficial do Open Finance Brasil.

Vantagens do Open Banking

O Open Banking, ou melhor dizendo, Open Finance, representa uma mudança profunda no relacionamento entre consumidores e instituições financeiras. Entre os principais benefícios, podemos destacar:

  • Mais opções disponíveis: acesso a ofertas de crédito, contas digitais e investimentos em várias instituições com base no seu perfil.
  • Produtos personalizados: com base no seu histórico financeiro real, as propostas são mais justas e condizentes com a sua realidade.
  • Menos burocracia: adeus à papelada. Com o compartilhamento de dados, você pode contratar serviços com poucos cliques.
  • Empoderamento do consumidor: você decide o que compartilhar, com quem e por quanto tempo.
  • Estímulo à concorrência: bancos e fintechs precisam inovar para atrair e manter clientes, resultando em melhores serviços e taxas.
  • Inclusão financeira: pessoas com histórico fragmentado ou limitado passam a ter acesso a serviços antes inacessíveis.
  • Eficiência operacional: para empresas, o Open Finance permite otimizar processos e reduzir custos.

Exemplos práticos: cartões de crédito, crédito pessoal, investimentos

Vamos a alguns cenários para entender como o ecossistema funciona na prática:

Cartões de crédito

Ao compartilhar seus dados de consumo, você pode receber propostas com limites mais adequados, taxas reduzidas e cashback.

Empréstimos pessoais

Instituições analisam seu histórico financeiro completo, permitindo ofertas com juros mais baixos.

Investimentos

Plataformas conseguem cruzar dados da sua conta bancária com seu perfil de risco para sugerir carteiras mais adequadas.

Comparação de contas digitais

Um agregador de contas pode mostrar qual instituição cobra menos tarifas ou oferece mais rendimento.

Gestão financeira automatizada

Aplicativos podem analisar sua renda e gastos em tempo real para sugerir ajustes ou metas.

Impacto nos modelos de negócios

Com a chegada do Open Finance, os modelos de negócios das instituições financeiras estão se transformando.

Em vez de manterem seus dados em silos, os bancos agora competem com base em experiência, agilidade e personalização. Isso abre espaço para que startups e fintechs criem soluções focadas em nichos específicos, desde gestão financeira para autônomos até crédito personalizado para pequenas empresas.

As empresas de tecnologia também entram no jogo, oferecendo plataformas intermediárias que conectam bancos, consumidores e prestadores de serviços. A tendência é a consolidação de ecossistemas integrados, com foco em embedded finance, ou seja, serviços financeiros incorporados à experiência do usuário.

Como os clientes poderão se beneficiar?

Com o avanço do Open Banking, os clientes podem tomar decisões financeiras mais conscientes, rápidas e vantajosas.

Pense no seguinte:

  • Você pode gerenciar todas as suas contas em um único aplicativo.
  • Consegue migrar de banco com mais facilidade, sem perder histórico.
  • Recebe ofertas realmente vantajosas, baseadas no seu comportamento.
  • Tem mais poder de negociação com instituições financeiras.
  • Pode economizar tempo e dinheiro ao automatizar sua vida financeira.

A era da personalização financeira chegou, e o cliente, finalmente, está cada vez mais no centro.

Segurança e privacidade no Open Banking/Finance

A segurança é um dos pilares do modelo. No Brasil, esse ecossistema segue uma série de regulamentações que garantem proteção dos dados:

  • Lei do Sigilo Bancário (LC 105/2001): impede que dados financeiros sejam compartilhados sem autorização.
  • Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): assegura direitos ao titular dos dados, como acesso, exclusão e portabilidade.
  • Consentimento explícito: nenhum dado pode ser compartilhado sem sua autorização clara e informada.
  • Infraestrutura supervisionada pelo Banco Central: todas as instituições participantes precisam estar devidamente autorizadas.

Leia também: Política de privacidade: proteção de dados começa aqui

O que vem por aí?

Desde a conclusão da quarta fase, o ecossistema do Open Finance tem evoluído de forma acelerada. Hoje, já vemos a integração com o Pix e os primeiros passos rumo à chegada do Drex, a moeda digital brasileira. Ao mesmo tempo, tecnologias como inteligência artificial e tokenização estão sendo incorporadas, trazendo ainda mais segurança e personalização para os serviços financeiros.

Entre as principais tendências para o futuro do Open Finance estão:

  • A expansão do Open Insurance e do Open Investment, ampliando o acesso a produtos como seguros e investimentos de forma simples e integrada;
  • O avanço dos serviços de iniciação de pagamentos, facilitando transações fora dos canais tradicionais dos bancos;
  • A criação de novas regulamentações que reforcem a proteção dos dados e a confiança dos usuários.

A expectativa é de um sistema mais fluido, automatizado e centrado no cliente, com menos barreiras, mais agilidade e total controle das próprias informações financeiras.

Segurança digital é prioridade

Contudo, no mercado financeiro, proteger as informações dos clientes é essencial para garantir confiança e manter a reputação da empresa. Para isso, as instituições precisam investir em diversas camadas de segurança, como autenticação forte, criptografia de dados, monitoramento constante de atividades suspeitas e atualização frequente dos sistemas.

Além dessas medidas, é fundamental contar com auditorias regulares e testes de vulnerabilidade para identificar possíveis falhas antes que elas se tornem ameaças reais. Nesse contexto, os programas de bug bounty ganham destaque como uma última camada de defesa. Eles convidam especialistas em segurança para buscar brechas nos sistemas, ajudando a corrigir vulnerabilidades antes que criminosos digitais possam explorá-las.

Garantir a segurança não é apenas proteger dados, é cuidar do futuro do negócio e da tranquilidade dos clientes.

Gostou deste artigo? Acesse mais conteúdos com temas relacionados à cibersegurança em nosso blog ou nos siga nas nossas redes sociais.