Os programas de bug bounty são hoje uma peça fundamental no ecossistema de segurança cibernética, servindo como uma barreira proativa contra vulnerabilidades e ataques mal-intencionados. Empresas globais como Google, Facebook e Microsoft confiam nesse modelo para fortalecer suas defesas digitais. No entanto, a história desses programas não é tão recente quanto parece.

Neste artigo, vamos explorar a origem do conceito de bounty, sua evolução e como essa abordagem se tornou indispensável na segurança digital atual. Acompanhe!

O que é bounty​

A palavra “bounty” remonta ao inglês antigo e significa "recompensa" ou "prêmio". Historicamente, bounties eram oferecidos para incentivar ações de alto risco, como a captura de criminosos ou a realização de avanços científicos. Durante o século XVII, por exemplo, os governos utilizavam bounty hunters para capturar piratas que ameaçavam o comércio marítimo. Esse modelo de incentivo financeiro sempre teve uma característica comum: a resolução de problemas complexos por indivíduos qualificados e motivados pela recompensa.

A transição desse conceito para o mundo da tecnologia foi uma evolução natural à medida que os sistemas digitais se tornaram cada vez mais críticos e complexos. Os mesmos princípios de recompensa por solução de desafios foram aplicados à identificação de falhas de segurança, dando origem aos programas de bug bounty.

Leia também: Bug Bounty: O que é e qual a sua importância para a cibersegurança

A origem dos programas de bug bounty

A ideia de oferecer recompensas por encontrar falhas em sistemas tecnológicos não surgiu recentemente. Desde os primeiros dias da computação, surgiram iniciativas pioneiras que lançaram as bases para os programas de bug bounty modernos.

1983: O pioneirismo da Hunter & Ready

O primeiro registro de um programa de recompensa por bugs surgiu em 1983, quando a empresa norte-americana Hunter & Ready buscava proteger seu sistema operacional em tempo real, o Versatile Real-Time Executive (VRTX). A peculiaridade desse programa estava no prêmio: quem identificasse vulnerabilidades recebia um Volkswagen Fusca (apelidado de bug em inglês). Essa iniciativa marcou o início do uso de incentivos estruturados para aprimorar a segurança de sistemas tecnológicos, entretanto, o termo bug bounty ainda não existia nesse período, sendo reconhecido apenas em 1995.

1995: Netscape e o bug bounty moderno

O verdadeiro marco para os programas de bug bounty modernos ocorreu em 1995 com a Netscape Communications Corporation. Liderada pelo engenheiro Jarret Ridlinghafer, a empresa lançou um programa para identificar falhas no navegador Netscape Navigator 2.0 Beta. Os participantes que descobrissem e relatassem bugs de segurança eram recompensados financeiramente.

Embora inovadora, essa prática não se popularizou imediatamente. A ideia permaneceu à margem até ser resgatada e refinada nos anos seguintes por empresas de tecnologia e intermediários especializados em segurança.

A evolução dos programas de bug bounty

Nos anos 2000, os programas de bug bounty ganharam tração com novas abordagens e a adesão de grandes empresas. Esse período foi marcado por iniciativas que ampliaram o conceito e consolidaram o crowdsourcing como uma estratégia viável para a segurança digital.

2002: IDefense e o modelo de intermediação

A retomada dos programas de bug bounty ocorreu em 2002 com a empresa de segurança IDefense, que criou um modelo de intermediação. Os pesquisadores de segurança identificavam vulnerabilidades em softwares e as reportavam à IDefense, que atuava como intermediária entre os pesquisadores e os fornecedores de software. Esse modelo facilitava a comunicação e garantia o pagamento das recompensas.

2004: Mozilla e o incentivo à segurança open-source

A Mozilla Foundation deu um passo importante em 2004 ao lançar um programa de bug bounty para o navegador Firefox. A fundação oferecia até US$500 para quem relatasse falhas críticas de segurança. Esse programa teve um impacto significativo, consolidando o uso do crowdsourcing para a segurança digital e estabelecendo um precedente para outros projetos de código aberto.

2007: Pwn2Own e a competição por recompensas

Em 2007, o concurso Pwn2Own foi lançado durante a conferência CanSecWest por Dragos Ruiu. A competição desafiava pesquisadores a encontrar falhas no Mac OS X em troca de recompensas, que começaram com um laptop e foram ampliadas para US$10.000 pela Zero Day Initiative (ZDI). O sucesso do evento mostrou o potencial dos concursos de exploração e estabeleceu o Pwn2Own como um evento anual de destaque na comunidade de segurança.

2010: A adesão do Google e a explosão dos bug bounties

Em 2010, o Google institucionalizou os programas de bug bounty ao lançá-los para seus aplicativos da web e o projeto Chromium. A iniciativa foi um sucesso e inspirou outras gigantes tecnológicas, como o Facebook, que lançou seu Programa Whitehat em 2011.

Nesse momento, as empresas começaram a perceber que a colaboração com hackers era uma forma eficaz e econômica de fortalecer a segurança dos sistemas.

Bug bounty no Brasil: a chegada da BugHunt

No Brasil, o cenário de bug bounty começou a ganhar força em 2020 com a fundação da BugHunt, a primeira plataforma nacional dedicada a programas de recompensa por bugs. A chegada da BugHunt foi estratégica em um momento em que os ciberataques aumentaram drasticamente, colocando o Brasil como um dos países mais afetados por ransomware.

A BugHunt introduziu dois formatos de programa de bug bounty adaptados às necessidades das empresas brasileiras:

  • Programas Públicos: Abertos a toda a comunidade de hackers, indicados para empresas com maior maturidade em segurança.
  • Programas Privados: Limitados a especialistas selecionados, oferecendo maior controle e confidencialidade para empresas que buscam elevar sua maturidade em segurança gradualmente.

Além dos Programas Públicos e Programas Privados, a plataforma também disponibiliza o VDP (Vulnerability Disclosure Program) e os Programas por Objetivo.

O VDP permite que pesquisadores relatem vulnerabilidades de forma estruturada e ética, mesmo sem a oferta de recompensas, garantindo que as empresas tenham um canal permanente para receber e tratar falhas de segurança de maneira responsável. Já os Programas por objetivo possibilitam que as empresas direcionem os testes para áreas críticas e específicas de suas aplicações, permitindo uma abordagem mais focada e eficaz.

Essa diversidade de opções amplia o leque de possibilidades para empresas protegerem seus sistemas e proporciona aos especialistas mais oportunidades de aplicar suas técnicas avançadas, fortalecendo assim o ecossistema de segurança cibernética de forma colaborativa e produtiva.

Por que os programas de bug bounty são essenciais?

Os programas de bug bounty oferecem vantagens significativas para as empresas:

  • Identificação proativa de vulnerabilidades antes que sejam exploradas por agentes mal-intencionados.
  • Diversidade de abordagens por meio da colaboração com uma ampla rede de hackers.
  • Investir em bug bounties costuma ser mais econômico do que lidar com as consequências de uma violação de dados.
  • Conformidade com regulamentações como a LGPD, ajudando a evitar penalidades legais e proteger a reputação da empresa.

A trajetória dos programas de bug bounty reflete a evolução da cibersegurança em um mundo cada vez mais conectado e vulnerável. Desde as recompensas inusitadas da Hunter & Ready até as plataformas especializadas como a BugHunt, o conceito de bounty provou ser um aliado valioso na luta contra o cibercrime.

Além dos benefícios técnicos, é importante ressaltar que os programas de bug bounty fomentam uma rede global de pesquisadores de segurança. Eles ampliam o acesso a práticas profissionais e incentivam especialistas de diferentes contextos a contribuir para a segurança digital. Isso não apenas fortalece as defesas das empresas participantes, mas também melhora a segurança digital em um nível mais amplo, promovendo uma resiliência coletiva contra ameaças cibernéticas.

Contudo, implementar programas de bug bounty vai além da proteção de sistemas corporativos. É uma forma de aproveitar a inteligência distribuída para criar um ambiente digital mais seguro e robusto.

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